20 junho 2021

Aquela que viaja.

 






O campo está verde e vasto, pois o vento rodopia como bailarina entre as colinas. A vista alcança o horizonte e os pensamentos borbulham ao transbordar tanta inquietude. Ao teu ver...Apenas um momento, ao meu? Sim, lance adiante teu olhar e contemple a relva serena, a brisa suave e a maresia. Consigo ouvir o chamado pela tranquilidade que salta aos teus olhos. Calma, parada e distante, contudo à frente está a plenitude dos campos. Cujo silêncio desperta-lhe inveja. Perceba que teus pés descalços tocam a terra molhada, todavia estamos na estação árida. O que se passa? Creio eu, as lágrimas embelezaram e inundaram o caminho. Umidade salina e o mar não foi o causador. Entendo, porém a dor silenciosa passa longe da tristeza da qual toma forma a garganta seca. Afinal, por que choras? É revolta dissimulada e gritos sem plateia.  Urro mais alto para a lua minguante. Aos teus ouvintes, és inaudível. Volte teu olhar para os campos, a calmaria fora encontra-se. Há calmaria?  

Respiração profunda 1, 2,3... Inspira e Expira. Coloco-me a caminhar com o objetivo de alcançar o limiar. Atravesso o descampado e minha face sente, com poros arrepiados, a aproximação da tempestade. Neste instante? Mas o clima era de estiagem? Respiração profunda 1, 2,3... Inspira e Expira. Nulo de intempéries, mas o vendaval de emoções que me assola. Como dói discernir entre o real e o imaginário. Abismada estou, se percorro todo o trajeto encontro o despenhadeiro. Abismo? Desempenho meu papel de observadora- participante. Auditório, anfiteatro, ágora ou picadeiro? Não tem público e a voz sai sem som, aqui míngua tuas forças. Em histeria você baila, baila e redemoinha como o vento na campina. O campo está verde e vasto, coloca-se a caminhar. Infâmia, estagnada estou. Diga-me como! Eu estava a correr ao longo do prado. Paciência é a virtude da qual você não foi abençoada. Agora falas em virtude, logo a minha que invejo o silêncio do orvalho da relva. Onde estou? Com quem estou? Quem é você?

Delírios, com certeza delírios.

Veja o corpo que repulsa. Aproximando e cada vez mais perto.

Respiração profunda 3,2,1.... Desperto sobressaltada e me percebo entre paredes. Foi apenas um sonho. Abraça os joelhos e soluça baixinho preces ou maldições. Não escuto teus sussurros. Aconselho voltar a dormir.

Então, foi isso que as Moiras planejaram? Dia após dia?

O pranto conforta meu coração, limpa meus canais e permite alívio. Campo, colinas e prados alimentam ilusões dessa alma amargurada. É refúgio o que procuro incansavelmente. Tão para maya esses anseios que desejo à primeira estrela da noite apenas “shhhhhh”. Pouso meu dedo indicador e médio sobre os lábios e levanto meu olhar para a janela. O sol logo irá raiar. Banho matinal e as gotículas geladas deslocam a minha mente. Barulhos de água corrente, a sombra das copas das árvores e as melodias das esperanças que friccionam uma de suas asas na outra. São esperanças ou grilos? Sossegado ambiente e  ideal para meu taciturno humor. O limo deixa as rochas lisas e dificulta a escalada na encosta do vale. Silfos brincam com meus cabelos e minhas gargalhadas ecoam pelo desfiladeiro. Aqui tem cheiro de liberdade. Que grilhões são esses enrolados nos seus tornozelos? Café na mesa e chá acre combinados ao biscoito de sal. Alimente-se e parta para suas obrigações. Poluição sonora e visual enchem sua cabeça de propostas sinistras. Pense bem, pois os trilhos do metrô não são as chaves da sua prisão. As Moiras planejaram. Dia após dia e noite após noite. Deleito-me com a solidão e questiono se a multidão ao redor não sai do feitiço rotineiro.  Meu maior erro é procurar por campos verdes e frondosos. A jaula cimentada de brisa artificial rouba minh'alma para que vida eu tenha. Aquiete sua mente e respire profundamente. Refúgio no irreal e imaterial.  Consegue ouvir o chamado da plenitude! É noite, volto meu olhar aos campos e entoo cantigas de ninar à lua cheia. O estardalhaço externo não cessa. Carrega com orgulho tuas correntes. Sei que não desistirá nesta ou na outra existência. Pertence a si mesma, pequena viajante.


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